BELO HORIZONTE / MG - sexta-feira, 19 de abril de 2024

osteogênese imperfeita

                                           

          UMA BREVE HISTÓRIA DA OSTEOGÊNESE IMPERFEITA NO HPS JOÃO XXIII , HOSPITAL DAS CLINICAS E O Dr. TULIO CANELLA

 

                        Em  março de 2002,o medicamento  PAMIDRONATO  foi iniciado no HPS-JOÃO XXIII nas  crianças portadoras de  OSTEOGÊNESE IMPERFEITA de maneira quase artesanal . A droga é relativamente recente , porém já bem estudada em grandes centros mundiais como no SHRINERS HOSPITAL FOR CHILDREN em  Montreal , CANADA. Atualmente, no Brasil  é utilizada nos pacientes com osteogênese imperfeita em alguns  grandes centros como São Paulo, Curitiba , Fortaleza etc. que são credenciados pelo SUS para a aplicação

          Em Belo Horizonte-MG  o atendimento a estes pacientes ainda não estava bem definido. O paciente chegava  até mim(dr. Túlio canella /ortopedista pediátrico) através de variadas fontes , então era avaliado e  quando escolhido candidato a medicação, era encaminhado para fazê-la pela EQUIPE de pediatras do 2º andar do HPS-JOÃO XXIII, sendo a Dra. CENIRA  e Dra. ELIANE  integrantes da mesma.

             A administração  era  endovenosa  durante  2 a 3 horas  durante  3 dias consecutivos em regime ambulatorial e repetida  depois de 3 a 4  meses por um período  mínimo de 2 anos , podendo  ser  por  tempo indeterminado. Esta forma  de  administração é  embasada na literatura mundial  e  acreditamos  ser a melhor tanto para o paciente quanto para o hospital em termos de gastos e transtorno para o paciente.  Existe  a forma de administração da  droga  feita com paciente internado que é a preconizada pelo SUS.

                Em 2003 estes paciente que eram em torno de 20 foram encaminhados para tratamento no HC-UFMG.

               Hoje o nosso ambulatório tem cerca de 65 crianças portadoras de osteogênese imperfeita,doença genética que causa fraqueza óssea em graus variados, produzindo fraturas múltiplas ao longo do tempo e conseqüentemente deformidades ósseas muito grosseiras.                          

             Os pacientes  portadores de osteogênese imperfeita tipo I , II, III e IV  de Sillence  estão em acompanhamento ortopédico no HC-UFMG,  visto que algumas formas de acometimento da patologia são graves(múltiplas fraturas) e causam muitas deformidades nos membros superiores e inferiores e com isso trazem uma  série de dificuldades e complicações durante a fase de crescimento  levando a pratica de varias correções cirúrgicas. O medicamento Pamidronato veio para minimizar a agressividade da doença  e melhorar o prognóstico ,porém não atua na causa básica que é o defeito na organização das fibras do colágeno que estão nos ossos, tornando-os frágeis e quebradiços   (ossos de cristal). Contudo, é o que temos de melhor na atualidade.

           Até o presente momento o HC  não  é credenciado pelo ministério da saúde como centro de referência para aplicação do medicamento PAMIDRONATO  na patologia OSTEOGÊNESE IMPERFEITA(está em andamento) , contudo a doença existe e alguém tem que tratá-la.   

            Há  muitos anos tratamos osteogênese imperfeita em nosso ambulatório(cirurgias , orteses etc.) de ORTOPEDIA PEDIÁTRICA do HC. Com o surgimento do medicamento pamidronato ,  iniciamos há 8 anos o uso do medicamento PAMIDRONATO  em nossos  pacientes baseados em artigos publicados internacionalmente(CANADA,AUSTRALIA E EUA).

             O medicamento existe no hospital,porem  somente é disponível para adultos e crianças com lesão tumoral,portanto estão excluídos  os pacientes com osteogênese.

            Então , para que tratássemos estes paciente alem do que tínhamos  e promovendo uma melhoria em sua qualidade de vida,decidimos fazer um relatório que vai para o posto de saúde mais próximo da casa e daí para a secretaria de saúde e  uma receita .Assim eles adquirem o medicamento e depois são encaminhados ao ambulatório Borges da costa onde é feita a aplicação do medicamento por profissionais experientes e que já conhecem a medicação,pois ela também é utilizada para outras patologias.

         A aplicação não precisa necessariamente ser feita com o paciente internado, esta é uma convenção do ministério da saúde. Pode ser feita ambulatorialmente , mas não no domicilio. Em muitos centros dos EUA  e CANADA o tratamento é ambulatorial e assim adotamos esse critério.

        Os pacientes são controlados com radiografias e exames de laboratório periodicamente.

         Até o momento, a maioria dos paciente, (em torno de 36) estão bem, sem nenhuma intercorrência com o medicamento e com melhora acentuada do quadro refletindo um bem estar também para os familiares que se dispõem a principio a falar sobre as melhoras com o uso do pamidronato quando forem solicitados.

        Quando estive em SORRENTO na ITALIA no congresso mundial de ortopedia pediátrica trouxe a idéia da haste telescópica para MINAS. As hastes telescópicas de FASSIER-DUVAL, são hastes próprias para a correção das deformidades e que mantém o alinhamento do membro mesmo com o crescimento deste, o que  não ocorre com os métodos tradicionais que são disponíveis hoje, tendo-se que recorrer ,muitas vezes, a vários procedimentos cirúrgicos em um mesmo paciente  pela recidiva da deformidade. Isso traz mais risco anestésico e cirúrgico  para o paciente além de onerar o hospital com vários procedimentos.

            Esse conjunto, PAMIDRONATO E HASTE DE FASSIER-DUVAL formam o que há de ponta no mundo hoje no tratamento da osteogênese imperfeita .O  custo de cada haste gira em torno de R$ 10.000,00 e o SUS não cobre esta cirurgia.

ARTIGO DE REVISÃO/ ABSTRATO

What is new in genetics and osteogenesis imperfecta

classification?

Eugênia R. Valadaresa,

, Túlio B. Carneiroa, Paula M. Santosb,

Ana Cristina Oliveirab e Bernhard Zabelc

a Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, MG, Brasil

b Faculdade de Odontologia, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, MG, Brasil

c Clínica Pediátrica da Universidade de Freiburg, Freiburg, Alemanha

Collagen type 1

Abstract

Objective: Literature review of new genes related to osteogenesis imperfecta (OI) and update

of its classification.

Sources: Literature review in the PubMed and OMIM databases, followed by selection of relevant

references.

Summary of the findings: In 1979, Sillence et al. developed a classification of OI subtypes based

on clinical features and disease severity: OI type I, mild, common, with blue sclera; OI type

II, perinatal lethal form; OI type III, severe and progressively deforming, with normal sclera;

and OI type IV, moderate severity with normal sclera. Approximately 90% of individuals with

OI are heterozygous for mutations in the COL1A1 and COL1A2 genes, with dominant pattern of

inheritance or sporadic mutations. After 2006, mutations were identified in the CRTAP, FKBP10,

LEPRE1, PLOD2, PPIB, SERPINF1, SERPINH1, SP7, WNT1, BMP1, and TMEM38B genes, associated

with recessive OI and mutation in the IFITM5 gene associated with dominant OI. Mutations in

PLS3 were recently identified in families with osteoporosis and fractures, with X-linked inhe-

ritance pattern. In addition to the genetic complexity of the molecular basis of OI, extensive

phenotypic variability resulting from individual loci has also been documented.

Conclusions: Considering the discovery of new genes and limited genotype-phenotype corre-

lation, the use of next-generation sequencing tools has become useful in molecular studies of

OI cases. The recommendation of the Nosology Group of the International Society of Skele-

tal Dysplasias is to maintain the classification of Sillence as the prototypical form, universally

accepted to classify the degree of severity in OI, while maintaining it free from direct molecular

reference.

© 2014 Sociedade Brasileira de Pediatria. Published by Elsevier Editora Ltda.

DOI se refere ao artigo: http://dx.doi.org/10.1016/j.jped.2014.05.003

Como citar este artigo: Valadares ER, Carneiro TB, Santos PM, Oliveira AC, Zabel B. What is new in genetics and osteogenesis imperfecta

classification? J Pediatr (Rio J). 2014;90:536---41.

Autor para correspondência.

E-mail: eugenia@medicina.ufmg.br (E.R. Valadares).

2255-5536/© 2014 Sociedade Brasileira de Pediatria. Publicado por Elsevier Editora Ltda.

Este é um artigo Open Access sob a licença de CC BY-NC-ND

Este é um artigo Open Access sob a licença de CC BY-NC-ND

Documento descarregado de http://jped.elsevier.es el 25/06/2015. Cópia para uso pessoal, está totalmente proibida a transmissão deste documento por qualquer meio ou forma.

Genetics and osteogenesis imperfecta classification 537

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INTRODUÇÃO

  

A osteogênese imperfeita (OI) é causada por um defeito quantitativo

e qualitativo no colágeno do tipo I

heteropolímero constituído por duas cadeias alfa 1 e uma cadeia alfa 2,

que assumem estruturalmente a forma de tripla hélice, e sua determinação

genética ocorre nos Loci COL1A1 e COL1A2. A herança

obedece um padrão autossômico dominante, ou, menos freqüentemente,

recessivo.A fragilidade óssea é um sinal indicativo da OI

fraturas muitas vezes podem ser reconhecidas antes mesmo do nascimento

As fraturas intra-uterinas podem ser detectadas por meio

de ultra-sonografia fetal, já no primeiro trimestre da gestação

Estes pacientes são classificados, segundo os critérios de Sillence et al.

como portadores do tipo II de OI, sendo esta a forma mais rara e grave

da doença. Caracteristicamente, causam o óbito da criança antes ou

logo após o nascimento

As fraturas ocorrem nos primórdios da infância, atingem preferencialmente

os membros inferiores e tornam-se menos comuns

após a puberdade. Sua freqüência e precocidade de início estão

diretamente relacionadas com a gravidade da doença

As escleras azuladas e a dentinogênese imperfeita são também

características marcantes quando presentes nos pacientes portadores

de OI

azuis, e caracteristicamente, estava presente em todos os pacientes do

tipo I, sendo que este achado coincide com a literatura

dentinogênese imperfeita caracterizada por falha na formação da

dentina e maior propensão às cáries é relatada nos portadores de OI do

tipo III

A diminuição da acuidade auditiva decorrente da otosclerose é do

tipo condutiva, inicia-se na 2

gradual e progressivo. Ocorre em até 40% dos pacientes portadores

do tipo I da doença e é pouco freqüente nos demais grupos

deficiência foi observada em 22,2% dos nossos pacientes com o tipo I

de OI, não afetando os pacientes dos demais tipos.

As deformidades esqueléticas são freqüentes, predominam nos

membros inferiores e são decorrentes de fraturas viciosamente

consolidadas. Estão diretamente relacionadas com a gravidade do

acometimento e interferem no prognóstico da marcha.

 A baixa estatura é outro achado comum nos pacientes portadores

de OI. Esta constatação pode ser útil para a

classificação dos portadores de OI, pois há diferença estatisticamente

significante na comparação das estaturas entre os pacientes do tipo III,

que são mais baixos que os pacientes dos tipos I e IV.

Nos casos mais graves da doença, podem ocorrer deformidades

da coluna vertebral, sendo mais comum a escoliose, que ocorre em

20% a 40% dos pacientes, e que, além de contribuir para a baixa

estatura, é responsável pela diminuição da capacidade cardiopulmonar,

limitando assim a expectativa de vida desses doentes

da escoliose, pode também ocorrer cifose, impressão basilar e

espondilolistese

escoliose, sendo 80% nos portadores do tipo III da doença, que

apresentavam curvas que excediam os 40 graus. Dois destes pacientes,

com idades acima de 40 anos, já apresentavam sintomas de

insuficiência respiratória.

Faz parte do quadro clínico o aumento da elasticidade com frouxidão

cápsulo-ligamentar, tendência aumentada ao sangramento, fáscies

 

Fascies triangular, alterações da pele e, menos freqüentemente, a hérnia

inguinal, os defeitos congênitos tardios e retardo mental

Radiograficamente são encontradas alterações ósseas, que

variam em qualidade e quantidade segundo a gravidade da doença.

Há em geral uma diminuição do trabeculado ósseo normal, uma

diminuição da espessura da cortical e deformidades angulares

Estas deformidades são comuns na convexidade dos

ossos longos dos membros inferiores, podendo coexistir com

fraturas em várias fases de consolidação num mesmo paciente. Nas

formas mais graves existem as chamadas calcificações em “pipoca”

na região metafisária dos ossos longos e mais raramente podemos

encontrar casos de protrusão acetabular

A densidade óssea está diminuída nos doentes com OI, e isso

pode ser investigado por métodos radiográficos, pela densitometria

óssea ou pela tomografia da coluna lombar. As radiografias mostram

uma diminuição do trabeculado ósseo normal, que pode ser inferida

segundo a classificação descrita por Singh et al.

A densitometria óssea (DMO) atualmente é um método mais

eficaz que a radiografia, pois consegue quantificar objetivamente a

diminuição de massa óssea. A DMO também se presta para o

seguimento dos pacientes que são tratados clinicamente com

bisfosfonados ou outras drogas.

seu prognóstico e a melhor forma de tratamento, é de fundamental

importância. No entanto, os critérios para classificação propostos

por Sillence et al.

tipos de apresentação, principalmente entre os pacientes pertencentes

aos tipos III e IV. Nestes casos, o fato do paciente nunca ter

deambulado e a estatura muito baixa nos parecem as variáveis mais

importantes para classificá-los como tipo III, enquanto que para a

diferenciação entre os tipos I e IV, a DMO é o exame de maior valia,

sendo mais favorável no tipo I.

OSTEOGÊNESE IMPERFEITA: PERFIL CLÍNICO E LABORATORIAL

A osteogênese imperfeita é uma doença determinada geneticamente,

na qual está afetada a estrutura e a função do colágeno do tipo

I, que representa mais de 90% do colágeno tecidual total, sendo

responsável por 70% a 80% do peso seco dos tecidos fibrosos

densos que formam o sistema músculo-esquelético

herança mais comum é o autossômico dominante, podendo ser, com

menor freqüência, recessivo. A alteração é determinada por

mutações nos cromossomos 7 e 17, mais especificamente nos Loci

COL1A1 e COL1A2, onde ocorre com maior freqüência a substituição

da glicina por um outro aminoácido; mutações localizadas nestes

Loci determinam principalmente a OI, mas podem também causar,

dentre outras doenças, a síndrome de Ehlers-Danlos dos tipos VIIA

ou VIIB

a correlação entre o defeito genético específico e o fenótipo produzido

ainda é pouco estabelecida

A OI é uma doença rara, ocorrendo um caso em cada 15.000

a 20.000 nascimentos e sua prevalência é de 1 em 200.000

indivíduos

relação à raça ou sexo.

A apresentação clínica é heterogênea e variável sendo, no entanto,

marcantes a fragilidade óssea, a frouxidão cápsulo-ligamentar, a cor

azulada da esclera e a surdez

alcalina sérica acha-se freqüentemente aumentada, não sendo observadas,

porém, alterações nos níveis sistêmicos do cálcio, fósforo,

hormônio da paratireóide ou mesmo da 1,25 vitamina D

Estudos mais recentes mostram aumento na excreção urinária de

cálcio, fósforo, magnésio, hidroxiprolina e glicosaminoglicanos

Pode ser encontrada aminoacidúria, com a conseqüente diminuição

dos aminoácidos séricos

alterações metabólicas que elevam o risco de sangramentos e maior

predisposição à hipertermia maligna

O diagnóstico habitualmente é feito mediante a história clínica, o

aspecto ao exame físico e constatações radiográficas, não existindo

exame complementar de uso prático que seja específico para a

confirmação da doença, nem tampouco uma adequada correlação

clínico-laboratorial para cada tipo de apresentação fenotípica da

classificação de Sillence et al